sábado, 30 de abril de 2011

Xote, Maracatu e Baião. Mais que a tríade que deu luz ao Nordeste, Gonzagão desenhou uma cultura, como mostra novo livro de Bené Fonteles.


obs: de acordo com o autor, Bené Fonteles, o livro, por enquanto, não está sendo comercializado. Está sendo distribuído a órgãos públicos. Fonteles aguarda que alguma Editora se disponha a fazer o lançamento para o mercado editorial.

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Rei do Baião? Mais. Luiz Gonzaga foi além de todos os seus pares ao criar a estética de um povo que não tinha voz

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O Xote das Meninas de Luiz Gonzaga e Zé Dantas
Com Luiz Gonzaga - 05/02/1953 - RCA Vitor - Álbum 801108





Gonzagão em 1947
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18 de dezembro de 2010
José Nêumanne* - O Estado de S.Paulo
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Saiba que lá pelos anos 60 do século passado a Música Popular Brasileira, dita MPB, vivia à mercê da guerra da turma do tamborim contra a patota da guitarra elétrica. Então, o pernambucano Luiz Gonzaga (homônimo do santo) do Nascimento (sobrenome inventado para comemorar a proximidade do aniversário dele com o Natal) foi despejado para o ostracismo total. Aí, emergiu das sombras a ruidosa figura do roqueiro capixaba Carlos Imperial e propagou a boa nova: "Os Beatles gravaram Asa Branca." Era mentira. Mas o "gordo da Corte" havia proferido uma sacada genial: o mulato da Chapada do Araripe não era um compositor e cantor à altura de John Lennon e Paul McCartney. Mas, como os fabulosos garotos de Liverpool, ele tinha fundado uma estética, inaugurado uma cultura. Os quatro cavaleiros do Império Britânico foram muito além do universo dos rouxinóis e viraram o Ocidente de pernas para o ar. E o sanfoneiro do Exu inventou a cultura regional nordestina.
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Reproduções
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Pau de Arara de Guio de Morais
Com Luiz Gonzaga - 1952 - RCA Vitor - Álbum 800936





Para esta constatação chama a atenção um livro que reúne ensaios em prosa, fotos e xilogravuras encomendados, reunidos e coletados pelo artista plástico, poeta, compositor e curador de exposições paraense Bené Fonteles: O Rei e o Baião. No luxuoso e belíssimo volume editado pela Fundação Athos Bulcão, de Brasília, e financiado pelo Ministério da Cultura, não faltam excelentes textos de autores do naipe do compositor e cantor baiano Gilberto Gil, da professora cearense Elba Braga Ramalho, do poeta baiano Antônio Risério. Mas o que há de mais notável é a parte visual, a cargo do fotógrafo Gustavo Moura e dos xilogravadores João Pedro do Juazeiro, José Lourenço e Francorli & Carmem.
Todos eles contribuíram para uma visão multidisciplinar completa do Rei do Baião, que, morto há 21 anos, ainda é venerado como o símbolo vivo da diáspora nordestina. Seu cetro se explica de certa forma pela frase-síntese do maior folclorista brasileiro, o potiguar Luís da Câmara Cascudo: "O sertão é ele". Mas isto é só o ponto de partida.
A entronização de Lua se deve ao fato de ele ter incorporado a cultura rural sertaneja à indústria cultural urbana. Por isso, dele só se aproxima em importância na história de nosso cancioneiro a geração de sambistas cariocas dos anos 30, aos quais se juntou o mineiro Ary Barroso. Como os precursores do maior espetáculo do mundo - o desfile das escolas de samba do Rio -, Gonzagão inspirou as festas de São João: ao criar o primeiro trio com sanfona, zabumba e triângulo, ele instaurou a música regional nordestina, introduziu ao mercado a atividade de instrumentista e intérprete oriundo do sertão e interferiu na indústria cultural com nova modalidade.
Quem folheia o livro compreenderá, pela visão do conjunto da obra, que Gonzaga não virou rei pelas canções que compôs. Aliás, o uso deste verbo é controverso, pois, na verdade, mais do que compor ele adaptou temas ouvidos nas brenhas de origem ou atravessou em parcerias com autores interessados em obter seu aval de sucesso garantido. Mas, sim, por mercê da sintonia mágica com seus dois talentosos parceiros iniciais, o advogado cearense Humberto Teixeira e o folclorista pernambucano Zé Dantas, e da indumentária típica que inventou para se apresentar: gibão de vaqueiro e chapéu de cangaceiro. E mais ainda pela intuição genial que demonstrou ao transformar a fortuna melódica do cancioneiro dos cafundós sertanejos em gêneros musicais e ritmos de dança que, só por causa dele, encantam e mobilizam o público, além de produzir sucesso e fortuna para compositores e intérpretes no rádio, depois na televisão e nos salões de festa. Jackson do Pandeiro, Marinês, Antônio Barros e Cecéu, Genival Lacerda, Flávio José, Santanna Cantador e outros grandes autores e cantores não teriam exercido seu talento nem viveriam dos frutos dele se o filho de Januário não houvesse tirado dos baixos de sua sanfona o baião, o forró, o arrasta-pé.
O livro deixa isso claro. Pena que tenham sido omitidas informações sobre os autores de textos, xilogravuras e fotos. O leitor merecia saber quem constatou que Luiz Gonzaga foi o semideus que criou o Nordeste Musical Brasileiro.

JOSÉ NÊUMANNE É ESCRITOR, EDITORIALISTA DO JORNAL DA TARDE E CURADOR LITERÁRIO DO INSTITUTO DO IMAGINÁRIO DO POVO BRASILEIRO

BENÉ FONTELES
O REI E O BAIÃO
Fundação Athos Bulcão
Preço: indefinido




Trilha sonora e dádiva no exílio


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Baião de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira
Com Luiz Gonzaga - 1949 - RCA Vitor - Álbum 800605





Luiz Gonzaga, através da sua música, deu origem a uma das mais significativas representações da cultura brasileira. Sua música e o baião, sua mais expressiva criação, revolucionaram o imaginário do povo brasileiro. Um universo ímpar de significações que alargou as fronteiras da nossa identidade nacional, incluindo o povo nordestino no imaginário do Brasil.

Há quem diga que o Nordeste, tal qual o compreendemos, foi uma invenção de Seu Lua. A grandeza de sua obra fez dele um dos representantes mais ilustres da cultura brasileira, pelo que dela ele soube traduzir e o que a ela soube, com sua genialidade, acrescentar.
Ainda jovem, tornou-se um símbolo do País inteiro. Entre meados das décadas de 1940 e 1950, o baião foi o estilo musical mais tocado no Brasil. O baião é, reconhecidamente, tanto quanto o samba, uma expressão brasileira, por excelência. Em qualquer parte deste planeta. E Luiz Gonzaga, o maior ídolo da música popular brasileira. Desde então, nunca mais deixou de ser ouvido, tocado e composto.
Referência e nostalgia. Quando eu me encontrava exilado, tinha em Luiz Gonzaga a referência mais viva e contagiante do Brasil. Confesso que ouvir suas canções era um sentimento perturbador, me descolava da vida na Suécia onde eu havia encontrado acolhida, era feliz e razoavelmente integrado. Lembranças da minha infância, saudades do que havia deixado para traz, dor do exílio e banzo. Frequentemente choramingava solitário de nostalgia.
Luiz Gonzaga foi uma dádiva para nossa formação cultural em momento de grande expansão urbana. Gonzaga surgiu para o Brasil no Rio de Janeiro num momento privilegiado. A indústria do disco e a rede radiofônica já tinham a maturidade tecnológica e cultural, para entender um talento como o seu, capaz de unir o país de ponta a ponta, com alto nível de elaboração.
Luiz urbanizou sua tradição, predominantemente rural e interiorana. Como todo grande artista, foi capaz de traduzir o seu mundo, universalizando-o; capaz de absorver em seu processo criativo toda a vivência cultural dos nordestinos e torná-las objeto de admiração e de afeto para milhões de brasileiros.
O Brasil é um país tão extenso e tão diverso que precisa ser o tempo todo apresentado a si mesmo. Foi isso o que Seu Luiz fez, apresentou ao Brasil um Nordeste que o Brasil desconhecia. Um mundo cheio de novidades, dores e belezas. Poucos terão cantado tão bem quanto ele e seus parceiros os dramas do povo nordestino; mas, acima de tudo, foi a alegria de viver do nordestino que ele mais intensamente nos revelou. Muitos brasileiros aprenderam a amar e respeitar o Nordeste depois de serem cativados pela rara beleza da voz confiante de Gonzagão, e pelo seu sorriso, exprimindo uma inabalável alegria de viver.
Gonzaga surgiu como representante típico da massa cabocla do sertão. Destinado a plantar no coração da metrópole as sonoridades, os versos e a memória coletiva de um povo que nunca sonhava em ir para a cidade, e só o fazia quando o seu mundo começava a se acabar, pelo latifúndio, pela seca e falta de oportunidade. Como o presidente Lula. Outro ilustre brasileiro oriundo dessa tragédia nordestina.

JUCA FERREIRA É MINISTRO DE ESTADO DA CULTURA

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Baião de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira
Com Quatro Azes e um Coringa - 1946 - RCA Vitor - Álbum 13251







“O Rei e o Baião”

Lançamento do livro sobre Luiz Gonzaga emociona convidados em Brasília


Com uma cerimônia emocionante o livro “O Rei e o Baião” foi lançado na manhã desta sexta-feira (17), no auditório do Ministério da Cultura. Estiveram presentes no evento o ministro da Cultura, Juca Ferreira, o organizador da obra, Bené Fonteles, e a secretária executiva da Fundação Athos Bulcão, Valéria Cabral.
O livro resume, numa publicação recheada de fotografias e belos textos, a trajetória de Luiz Gonzaga, um dos grandes ícones da cultura brasileira e nordestina. “O Rei e o Baião” tem como objetivo fomentar e intensificar a obra do artista, que completaria  98 anos na última segunda-feira, 13 de dezembro, data em que o livro foi lançado em Recife.
O organizador da Obra, Bené Fonteles, destacou a importância de Luiz Gonzaga para a música brasileira. “Sem Luiz Gonzaga não existiria Gil, nem Vandré, nem Caetano, nem Edu Lobo, nem muita gente da música popular brasileira. Luiz Gonzaga é um dos seis compositores que formam o pilar da música popular, como Villa Lobos, como Tom Jobim, como Pixinguinha, como Noel Rosa e como Dorival Caymmi”.
Fonteles também agradeceu a participação do ministro Juca Ferreira no projeto, uma parceria entre a Fundação Athos Bulcão e o Ministério da Cultura. “Tenho um profundo agradecimento pelo ministro, pois sem ele esse livro não teria saído, e pelo respeito que ele tem pela diversidade cultural brasileira”.

Bené Fonteles aproveitou a oportunidade para ressaltar a importância dos nordestinos para Brasília e explicou que Luiz Gonzaga foi a trilha sonora da construção da capital. “Muitos nordestinos morreram construindo essa cidade. A minha homenagem hoje é para eles”.  Emocionado, ele chamou o taxista, Seu Ari, e o presenteou com um exemplar do livro.  “Eu dei o primeiro livro para o Juca, mas o segundo livro será dado para uma pessoa especial. Tenho a honra de ter o Ari como amigo, ele é apaixonado por Luiz Gonzaga. Ontem eu fiz uma corrida com ele e ele foi falando e cantando as músicas de Luiz Gonzaga”. Fontele explicou que Seu Ari chegou em Brasília em 1957 e que ele representa os nordestinos que construíram a cidade e ajudaram a disseminar a música de Luiz Gonzaga. Juntos, seu Ari e Fonteles cantaram um trecho da música Boiadeiro, de Gonzaga.
O ministro Juca Ferreira também se emocionou ao contar a importância da música de Luiz Gonzaga para ele durante o período em que ficou exilado.  “Gonzaga era o único músico brasileiro que toda vez que eu ouvia no exílio, eu era transportado rapidamente para o Brasil. Eu diria que ele foi, junto com outros, o repertório que me ajudou a viver esses oito anos obrigatórios fora do Brasil”.

O ministro afirmou ainda que a importância de Gonzaga extrapola a esfera cultural. “Mais do que importante para a cultura brasileira, Luiz Gonzaga é importante para o nordeste. Talvez sem ele, a hierarquia de regiões, o monopólio da imagem e da identidade, teriam se fixado mais fortemente no centro-sul,”. Segundo ele, o músico contribuiu para a formação da identidade nordestina. “Além da contribuição cultural, ele tem uma contribuição importante por ter alargado a perimetral da identidade cultural brasileira, incorporando os nordestinos com conseqüências tão profundas”, completou.
Juca Ferreira fez questão de explicar que o lançamento do livro não é um ato isolado, já que dia 28 de dezembro será lançado, no cais do Recife, o projeto Casa Cais do Sertão, um centro cultural que será construído em torno da figura de Luiz Gonzaga. O lugar será destinado à memória e a uma série de atividades culturais que terão o objetivo de ressaltar não só a obra do músico como também a música popular nordestina e todas as dimensões da cultura popular.
Durante o lançamento, o sanfoneiro Marcus Faria e os músicos Toninho Vieira e Antônio Cecílio tocaram repertório de Luiz Gonzaga.
Casa Cais do Sertão
Ainda em fase de construção, o projeto é resultado de uma parceria entre o Ministério da Cultura, o Governo do Estado de Pernambuco e do Porto de Recife, e representa um investimento de R$ 26 milhões, sendo R$ 21 milhões investidos pelo governo federal.
Ele será o primeiro museu nacional hi-tech de alto porte em Pernambuco e destacará a importância de Luiz Gonzaga, ícone do sertão nordestino, para a cultura e o imaginário brasileiro.
A pedra fundamental será lançada dia 28 de dezembro em Recife com as presenças do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro Juca Ferreira e contará com o show do sanfoneiro e compositor Dominguinhos, Targino Gondim e outros cinco sanfoneiros, que se apresentarão no Marco Zero, a partir das 17h.





CHICLETE COM BANANA GRAVA LUIZ GONZAGA VISANDO O SÃO JOÃO 2011



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De olho nos festejos juninos, a banda Chiclete com Banana anunciou na noite desta quinta-feira (27) que vai gravar um DVD somente com músicas de Luiz Gonzaga, depois do Carnaval, em Serra Talhada, terra natal do famoso cangaceiro brasileiro, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. \"Nos últimos anos, em cima do trio ou em nossos shows, temos feito algumas experiências com a música de Luiz Gonzaga. Agora, chegou a vez de homenagearmos esta figura singular e tão marcante da música brasileira\", disse o vocalista Bell Marques, líder do grupo. \"A filha dele participará e queremos também muitos artistas na gravação\", acrescentou o cantor. O repertório do DVD ainda não foi escolhido, mas os integrantes da banda não abrem mão de alguns clássicos gravados pelo cantor pernambucano, entre os quais \"Asa Branca\", \"Meu Pé de Serra\", \"Juazeiro\" e \"Paraíba\". Bell Marques disse ainda que, além do trabalho em homenagem a Luiz Gonzaga, a banda pretende gravar outro DVD este ano. \"Queremos incluir somente músicas da banda. Nossa ideia é fazer a gravação durante uma turnê pela Europa, um pouco em cada país\". Novas músicas À espera do Festival de Verão e do Carnaval, Bell Marques participou nesta quinta-feira (27) de um happy hour para apresentar oficialmente as duas músicas de trabalho do Chiclete com Banana: \"Meu Coração Voou\" e \"Chorarei Amor\". \"São músicas fortes, dançantes, baseadas na mistura dos tambores, que têm pegada forte e ritmo quente\", disse Bell. Com uma média de 130 shows por ano, os integrantes da banda (Bell, Wado, Deny, W, Lelo e Walmar) confirmaram sua participação em uma das mais tradicionais festas do calendário popular do Estado, no próximo dia 2, quando milhares de baianos e turistas reverenciam Iemanjá, a \"rainha das águas\". \"Iemanjá também é chicleteira\", brincou o cantor. A exemplo do ano passado, Chiclete com Banana vai desfilar no Carnaval com três blocos: Camaleão, Nana Banana e Voa Voa. Bell Marques acrescentou que estuda a possibilidade de criar um grupo de teatro para fazer \"intervenções\" durante a apresentação do grupo. \"O que passa pela minha cabeça agora é um projeto para ser feito dentro de um teatro mesmo, com um número limitado de pessoas, ao contrário de nossos shows, que são sempre para grandes 

Belford Roxo comemora o Dia Nacional do Livro em ritmo nordestino


Literatura de cordel, baião de dois, xaxado, música nordestina, estes foram alguns dos muitos atributos da Região Nordeste que marcaram presença no Projeto Dia Nacional do Livro 2011 realizado nesta sexta-feira (29) pela Prefeitura de Belford Roxo, através da Secretaria Municipal de Educação (SEMED). O evento aconteceu no CIEP Municipalizado Constantino Reis, no bairro São Bernardo, e contaram com as presenças de estudantes e responsáveis, professores, diretores, orientadores escolares, que integram a rede de ensino do município.

Os alunos do Ciep Constantino Reis dançaram ao som da música sobre Maria Bonita. Foto: Cláudio Molina.
Os alunos do Ciep Constantino Reis dançaram ao som da música sobre Maria Bonita. Foto: Cláudio Molina.
O tema escolhido este ano pela SEMED foi “Nos bordados de Maria Bonita – Belford Roxo reconta a Literatura Brasileira”. Diversas barracas criadas pelas unidades de ensino foram espalhadas pelas quadras esportivas e espaços do Ciep Constantino Reis, com o foco central na estória de Maria Bonita e Lampião, ícones da literatura nordestina. Além disso, aconteceram várias apresentações musicais das escolas, sempre com o tema no casal mais marcante do cangaço brasileiro, embalados pelos sucessos de Luiz Gonzaga, Elba Ramalho, Alceu Valença, entre outros.
“As crianças sorrindo e felizes é o que nos alegra. Educação se faz com amor, alegria e respeito. Doando muito amor aos nossos estudantes poderemos evitar cenas lamentáveis como aqueles acontecidas na tragédia que vitimou 12 crianças em Realengo. O livro é um meio de comunicação importante no processo de transformação do indivíduo. Ao ler um livro, evoluímos e desenvolvemos a nossa capacidade crítica e criativa. É importante para as crianças ter o hábito da leitura porque com ela, se aprimora a linguagem e a comunicação com o mundo”, disse o secretário municipal de Educação, Ronaldo Dias Justino.
O dia 29 de outubro foi escolhido como Dia Nacional do Livro em homenagem à fundação da Biblioteca Nacional, que ocorreu em 1810. Só a partir de 1808, quando D. João VI fundou a Imprensa Régia, o movimento editorial começou no Brasil. O primeiro livro publicado aqui foi “Marília de Dirceu”, de Tomás Antônio Gonzaga, mas nessa época, a imprensa sofria a censura do Imperador. Só na década de 1930 houve um crescimento editorial, após a fundação da Companhia Editora Nacional pelo escritor Monteiro Lobato, em outubro de 1925

quinta-feira, 28 de abril de 2011

13 de Dezembro – Dia do forró


sanfona 
“Foi decretado há alguns anos, o dia 13 de dezembro como o dia nacional do forró. A data é em homenagem a Luiz Gonzaga, que nasceu nesse dia, em 1912. Considero a homenagem muito justa e a data muito especial.
O forró também é considerado, pelo IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, patrimônio imaterial do povo brasileiro. Um grande patrimônio. É a música que mais gosto. Não digo que seja a melhor ou a mais bonita música do universo musical brasileiro, riquíssimo por sinal. Apenas a que mais gosto. Certamente tenho razões para isso. Considero o forró a minha música, a da minha identidade. Minha representação. Lógico, um matuto cheio de orgulho de ser matuto como eu, só pode gostar da música de matuto – forró. Embora conheça dezenas, centenas, talvez milhares de pessoas, nascidas e vividas no mesmo ambiente que eu e que não gosta, não sabe e nunca ouviu forró. Apreciam outros estilos musicais. Respeito todos. Mas há ainda hoje grande preconceito com o forró. É considerada por muitos como uma música inferior. Lógico que discordo e acho que esse preconceito tem a ver com as origens populares do forró, como afinal da grande maioria dos ritmos.
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Sivuca dizia que Gonzaga tirou o forró dos cabarés, das zonas, da periferia. Que com Gonzaga o forró deixou de ser coisa só de pobre matuto, de retirante, miserável nordestino e colocou nos salões da burguesia, da elite brasileira. O forró foi até internacionalizado.
Não sei se há alguma importância em se internacionalizar o forró. Mas sei que há importância em defender essa música. Essa bandeira. Como uma música nossa. Como uma representação cultural da vida do povo brasileiro. De suas alegrias, de seus dramas. É assim que escuto sua melodia.
Viajo ao som dos acordes de Dominguinhos, da mesma forma que viajo ouvindo a pastoral, a sinfonia Nº. 6 de Beethoven, minha preferida.
Quero falar aqui apenas do forró instrumental, tocado por forrozeiros de oito baixos.
Por esses dias montei um CD MP3 com uma coletânea espetacular de forró. Só instrumental. Fenomenal. Como tenho estado muito tempo dentro de um carro pra cima e pra baixo. Escuto muito o CD, com 265 músicas. As de Zé Calixto, o filho de seu Dideu, esse mágico dos oito baixos, já conhecia todas. Afinal tenho sua coleção completa. Do primeiro ao último disco. As músicas de Geraldo Correia, considerado por Dominguinhos como o melhor de todos; como o mais completo tocador de oito baixos do Brasil, segundo o mestre, filho de seu Chicão, são maravilhosas. Os dois expressam, e isso é muito interessante, a musicalidade de Campina Grande, Recife e Rio de Janeiro, por onde circulavam os forrozeiros da cidade.
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Jackson do Pandeiro, líder desse pessoal, tinha um programa na Rádio Nacional, de onde difundia o forró e todos esses artistas que fizeram de Campina Grande, nas décadas de 1950, 60 e 70 o Quartel General do forró e ponto natural do intercâmbio com o Rio de Janeiro à época, considerado a “capital cultural” do País. O forró e a música que eles tocam tem vários eixos geográficos. O de Zé Calixto e Geraldo Correia é esse. Daí em suas obras musicais se encontrar o “Rojão” campinagrandense , o frevo pernambucano (com forte influência em Campina Grande, onde Capiba morou por muitos anos e deixou raízes) e o samba carioca, que virou Samba Nordestino, ou Samba Brega mais recentemente. Além disso, a gravadora Cantagalo, que abrigava boa parte dos forrozeiros “nortistas” também ficava no Rio, com uma distribuidora em Recife.
Outro tocador de oito baixos que destaco é Noca do Acordeon. O som tirado por Noca dar a impressão que o fole de oito baixos foi inventado pra ele e para o forró. Nota-se a influência de Gonzaga no “roncado” de seu fole. Nossa! Ele toca valsas, boleros cubanos e se aventura por tangos argentinos, simplesmente maravilhosos, divinos. Um craque. Coisa de deleite sonoro. Manoel Maurício é outro craque nessa arte. Faz o fole pegar fogo. Adolfinho e Gerson Filho são geniais. Destaque para o acompanhamento de todos. O chocalho, o violão e, em muitos casos o cavaquinho. Noutros já se escuta o Baixo, em alguns inclusive, o eletrônico, demonstrando que o instrumental que se usa pode não alterar a proposta musical do artista. E estes forrozeiros são fieis a um estilo clássico de forró.
gonzaga3(Fotos de José Leomar)
Severino Januário, irmão mais velho de Gonzagão, discípulo, como o irmão famoso, do velho Januário, o pai de tudo isso, também é genial. Ele notadamente prefere os Arrasta-pés, aquelas marchas maravilhosas, especiais para dançar quadrilhas. Gabriel e Pedrinho, meus filhos, foram embalados desde cedo por aquela música. Ainda em 1999 comprei meu primeiro CD de Severino Januário e como não conseguia parar de ouvir e precisava colocar Gabriel, recém-nascido, para dormir; era ouvindo o fole de Severino Januário que ele adormecia. Distingo o som do fole de Severino Januário nos primeiros acordes, à distância. Hoje tenho a coleção completa dele, e cada dia amo mais essa beleza sonora.
No entanto, para mim, o melhor, que me desculpe Dominguinhos e todos os entendidos em música, é Pedro Sertanejo, o pai de Oswaldinho. A música dele é impressionante. É forró puro. Lembra-me os forrós de Mané Virgulino, lá na Serra do Monte, tomando cachaça em chapéus e voltando sendo trazido por minha égua Quixaba. Os forrós na casa de Detim (no Zacarias). Ou os da casa de Mané Torquato… Lembra-me as Emas da minha infância cheia de festa, de alegria, de forrós. A música tocada por Pedro Sertanejo é uma torrente de invernada sobre um verão demorado. É uma noite de trovoada. Quem já foi no Cariri numa noite de trovoada, a chuva vindo de recuada, sabe do que estou falando. O som do fole de Pedro Sertanejo entra pelos ouvidos e pelos poros. Ao mesmo tempo em que é suave é quente. É como a Salsa ou a Rumba ou o Chá chá chá cubanos. É como o Frevo. Impossível não mexer com a gente, com algum músculo. Como diz Gonzaga se referindo aos vaneirões gaúchos: é como uma narrativa musical das conchilas (fazendas) do Rio Grande. A música de Pedro Sertanejo é a narrativa sonora da paisagem do nosso sertão. De nossas serras, nossa mata, nossos pássaros. De nossa gente alegre, disposta a viver, a lutar pela vida com alegria e força. Ouvindo o fole de Pedro Sertanejo não imaginamos seca, miséria ou pobreza em nossas terras. Só a vida verdejada…. plagiando Jessier Quirino. É um rebuliço…
luiz-gonzaga-e-humberto-teixeira(Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira)
Falaria ainda de Luizinho Calixto, sobrinho de Zé. Seu estilo é mais refinado e toca um chorinho amuado. É genial. Luizinho é sujeito que tem um grau cultural mais elevado. Estudou mais. Estudou música inclusive. É uma espécie de representante político dos forrozeiros dos oito baixos. Seu programa na rádio Verde Mares de Fortaleza é um espaço da resistência forrozeira Brasil afora. Hoje deve estar em Exu, terra natal de Gonzaga, no Parque Asa Branca – local estruturado por seu Luiz Lua Gonzaga para se celebrar o forró. No pé da chapada do Araripe que tanto inspirou Gonzaga. Essa divisa de Pernambuco e Ceará. Luizinho participa da organização do aniversário do Lua do Nordeste que hoje estaria completando 96 anos.
Caravanas de amantes do forró se deslocam para casa de Gonzaga. A cozinheira de Gonzaga, remanescente do seu tempo faz feijoada, buchada, galinha de capoeira o dia todo. A festa que começou desde o fim de semana passado, hoje toma conta do alpendre da casa de Gonzaga. Sanfoneiros de perto e de longe circundam uma mesa enorme cheia de cerveja e cachaça e tocam músicas de Gonzaga e forró de toda natureza. Fazem-se desafios de sanfonas como de violeiros. Um puxa o fole de cá o outro responde de lá. Pessoas do povo ocupam o parque onde Gonzaga e familiares estão enterrados no mausoléu e onde há um museu com a obra gonzagueana. A noite é festa com vários convidados na quadra de shows. Hoje acho que será debaixo de chuva, como gostava Gonzaga. Amanhã, sob dois juazeiros plantados por Gonzaga, no pátio da fazenda, desfilam uma gama de sanfoneiros e se dar o prêmio Asa Branca ao artista que tenha se destacado na defesa do forró durante o ano. É belíssimo. Em paralelo, organiza-se uma feijoada a ser distribuída para todos moradores de Exu e aos convidados.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Há 60 anos, Luiz Gonzaga gravou o primeiro forró e fez história na música brasileira


Recife, PE

Na matriz dos ritmos nordestinos está a sanfona de oito baixos. Foi com ela que tudo começou. Os ritmos apressados, que embalam uma gente festeira por natureza surgiram nesta pequena caixa de fazer música.
Mas não se engane: a pequenininha é muito mais difícil de tocar e, por isso, poucos sanfoneiros se atrevem a manter o legado dos grandes mestres.
À primeira vista, o que chama a atenção na caixa de madeira, fole e botões é a ausência do teclado. São os botões que funcionam como teclas. E outra curiosidade é que, no Nordeste, a sanfona de oito baixos ganhou uma afinação única no mundo, um sotaque nordestino.
“É um instrumento, sem dúvida nenhuma, muito difícil de se aprender a tocar. Abrindo é um tom, fechando é outro. É um instrumento que não obedece escala musical”, explica o sanfoneiro Luizinho Calixto.
Com a sanfona no peito, Luiz Gonzaga traduziu a alma nordestina. O artista que se tornaria o “Rei do Baião” fez história na música brasileira. Há 60 anos, ele gravou o Forró de Mane Zito, a primeira música a ser batizada de forró.
Foi a partir deste disco, de 1950, que começou a popularização do forró. Naquela época, forró era sinônimo de “baile popular”, o chamado “forró bodó”.
“Hoje em dia, você pode chamar de forró uma festa ou o ritmo forró. Porque a partir de Luiz Gonzaga foi criado um ritmo forró”, diz o pesquisador Paulo Wanderley.
Luiz Gonzaga compôs cerca de 700 músicas e fez questão de escolher o herdeiro que levaria adiante o gênero onde cabem todos os ritmos nordestinos. Dominguinhos não esquece o dia em que recebeu o reconhecimento: “Eu estava gravando forró no estúdio com ele e ele me apresentou, nesse dia, à imprensa, como o herdeiro artístico dele. Eu tinha 16 anos”, lembra.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Clara Becker lança DVD e CD com músicas de Luiz Gonzaga e Gonzaguinha





Filha de dois ícones dos palcos brasileiros – Cacilda Becker e Walmor Chagas –, Clara Becker, de 47 anos, bem que tentou o teatro. “Mas não curti”, conta ela. Na inauguração do Teatro Ziembinski, de propriedade do pai, no Rio de Janeiro, chegou a participar das montagens de O protocolo e Desencantos, ambas de Machado de Assis. “O trabalho de ator é diferente. Tem de sair de si para entrar em outra pessoa”, explica, ao justificar a opção pela música.

Clara chega ao segundo trabalho solo com o disco-show Dois maior de grande, que acaba de ganhar edição em DVD gravada ao vivo no Teatro Coliseu, em Santos. A intérprete de voz grave e doce promove o encontro dos repertórios de Luiz Gonzaga com o do filho, Gonzaguinha. “Achei bonita a reunião dos dois, apesar de serem autores de obras distintas”, diz Clara, comemorando a oportunidade de falar de um Brasil “de chão, pó, poeira”.

Com roteiro e direção da própria intérprete, em parceria com Rejane Machado, o DVD conta com arranjos e direção musical do competente Leandro Braga. João Cristal (piano), Kiko Horta (acordeom), Jamil Joanes (contrabaixo), Felipe Poli (violão) e Pretinho da Serrinha (percussão) formam a banda.

LETRA Clara admite que o teatro acabou ajudando-a como cantora – até os arranjos caminham para ela exaltar a letra das canções. “Eu me jogo na emoção. Mesmo”, confessa ela, que abre o DVD com Gonzaguinha (De volta ao começoCom a perna no mundoQuestão de féSanfona de prata) para chegar a Gonzagão (Estrada de Canindé e Sabiá, parcerias com Humberto Teixeira e Zé Dantas, respectivamente).

“Quem me levou a Gonzagão foi o Gonzaguinha”, justifica ela, cuja interpretação é fortemente teatral. “Eles tiveram muitas divergências em vida”, recorda, referindo-se ao autor de Asa branca, que não aprovava a consagrada veia de protesto do filho. “Mas como música é música, sempre há o entrelaçamento”, acrescenta Clara, ressaltando o orgulho que Gonzaguinha sempre teve do pai.

DENSIDADE Um dos momentos mais fortes do DVD é Assum preto. Clara Becker conta que fez questão de levar a letra de Humberto Teixeira mais adiante, para destacar a densidade dos versos, com acentuada marca nordestina. Criada praticamente na coxia, aos poucos ela foi se voltando para a música. Passou a frequentar aulas de violão, percepção e de teoria musical no famoso Centro Ian Guest de Aperfeiçoamento Musical (Cigam), no Rio de Janeiro. “A gente está sempre estudando”, revela.

A ideia de gravar o DVD no Coliseu de Santos veio do desejo de coroar o sucesso do projeto, além de cantar no palco em que a mãe, Cacilda Becker, representou várias vezes. “Ele esteve ameaçado de se transformar em estacionamento”, lamenta Clara.

Mesmo com o fim da temporada do show Dois maior de grande, ela pretende prosseguir com os shows, à medida que surgirem convites. “Mas, a princípio, já tenho novas ideias”, anuncia ela. PaixãoSangrandoEu apenas queria que você soubesseAchados e perdidosCoisa mais maior de grandeDa vidaÉ e A felicidade bate à sua porta, de Gonzaguinha; XamegoOlha pro céuVida de viajante e Asa branca, de Gonzagão e parceiros, completam o repertório do DVD. Nos extras, ela e Daniel Gonzaga – filho de Gonzaguinha – cantamLindo lago do amor.